Pages

Tuesday, September 17, 2013

MOÇAMBIQUE O PAÍS DO ALAMBIQUE

O Drama de Uma Geração Em Fermentação

Tudo começa em discotecas e bares. Rodadas de álcool, striptease “quecas” e jantares. Entre rodadas e noitadas, a consciência esgueira-se de nós, e fica mais escassa a capacidade de uma escolha sensata. Mas sensatez é para quem tem limites, até porque não há balizas em jogos nocturnos. Aliás, em acções de engrandecimento da nossa ostentação gratuita, sustento redundante do nosso ego monetário, a causa é tão enorme que é supérfluo medir a consequência. Queremos todas elas. Mas há quem diga que as claras são mais atraentes, entretanto, nem tanto fortes quanto as escuras. Aliás, estas já foram inúmeras vezes campeãs na arte de subjugar paladares atormentados. As secas. Fala-se que são fáceis de mobilizar, entre as suas cristalinas e cilíndricas saias curtas, que por conseguinte encurtam também o troço ao orgasmo ébrio. A cerveja e o whisky.

Verdade ou mentira, o facto é que nove em cada dez dos nossos chaveiros são “abre – garrafas”; nove em cada dez viaturas têm um “Colman” na bagageira. Aliás, como dizia o outro, hoje as viaturas viraram barracas. Em cada nove viaturas circulando nas vias moçambicanas temos nove barracas móveis. É o caos vinolento.
Vivemos endividados até ao pescoço só para manter o Status. Aprumados de rótulos e cápsulas, tentamos esconder a nossa ignorância atrás de gravatas e fatos. Mas há coisas que lugar nenhum no mundo teria camuflagens suficientes para esconder: (1) A queda moral de uma sociedade erguida por camadas etilizadas; (2) a frustração de uma juventude em fermentação racional e carente de si mesma; (3) o desnorteamento de uma Nação conduzida por bússolas de ilicitudes.

As leis da economia mandam-me recordar que, antes mesmo do consumo vem o rendimento – os meus docentes Amâncio e Boane que não me deixem mentir – Sim, e daí nasce o dilema. Pois enquanto por um lado há uma latente e urgente necessidade de se banir a fermentação precoce dos poucos neurónios que nos sobram em nossos demoníacos crânios, por outro lado – por sinal o mais sensível em relação a esta febre do lúpulo e cevada – estão as nossas mães. Sentadas ali no passeio da vida imediata, buscando analgésicos monetários para atenuar as eternas dores da maternidade. Dores imortalizadas pela fome, pela carência, pela penúria que os inocentes semblantes dos seus menores não sabem omitir. Lá estão as nossas mães a espera de mais um adolescente com que traz consigo uma nota de 100 meticais a procura da sua papa instantânea.

A questão é: será que o sacrifício social, de “banir” ou reduzir o consumo de álcool, em nome de uma suposta saúde pública; de uma juventude ajuizadamente lúcida, compensaria a perda económica das nossas mães!? Custa-me estar a favor deste consumo exacerbado e encolerizado do álcool. Mas doe-me bastante apoiar o colapso, de quem muito disto depende.
O certo é que, em minha etilizada opinião, o baixo preço que se paga hoje pelo álcool é dos mais justos que se podia ter, olhando para este assunto sob ponto de vista de equilíbrio entre os míseros salários que se ganha neste país e a necessidade de se descontrair e divertir as pessoas nalgum momento – afinal não se pode levar a vida demasiado a sério – Entretanto, sob o prisma da comparação entre as urgentes necessidades (alimentares) da sociedade, parece haver uma dose de exagero nestas promoções. Lembrando que o álcool é um produto de consumo específico. E por conseguinte, com tributação também específica.

Não quero de forma alguma “violar” as leis da economia (justamente esta que é de mercado), e exigir que se faça o reajuste dos preços de produtos dos quais esta sociedade realmente mais carece, em função do actual custo de álcool (cerveja) nos principais centros de consumo deste país mas, verdade seja dita, há gente interessada na degradação desta juventude, na sua cegueira, na sua ociosidade, falta de opinião (argumentos) nos assuntos (factos) que agitam com o todo este país. Na verdade estas seringadelas de álcool podem mesmo, até ser vistas como dosagens analgésicas contra a doença do emprego, que está a cada exame estatístico, mostrando-se crónica. Oh meu Santo Pai!

Por: João Mindo (O Poeta Libero)